É sobre a minha bisavó Clara (já falei dela aqui). Pensei guardá-lo e publicá-lo apenas no dia em que faria anos se fosse viva, mas isso seria só em Junho de 2008, então teve que ser já...
«A minha vózinha»
Foto excluída.
Eu adorava passar o fim-de-semana com ela, havia sempre bolo de bolacha, pudim Flan, leite creme ou mousse. Havia aquela atenção especial que mais tarde descobri que era amor.
A casa estava sempre muito arrumada, tudo tinha o seu lugar próprio. Era muito silenciosa embora se ouvissem os cães a ladrar lá fora e, de vez em quando a bomba de água do prédio, mas tudo isso fazia parte do silêncio. Penso que era lá que a minha alma descansava e que eu me restabelecia e organizava as minhas pequenas ideias.
À noite costumava contar-me histórias em que os personagens eram o João Pestana ou o Zequinha, normalmente eram meninos mal comportados mas que no fim aprendiam sempre a lição. Foi o que se passou comigo, sempre fui uma “Maria Rapaz”, não sei se cheguei a aprender a lição que me queriam ensinar, mas aprendi a minha lição.
Ela era uma avó como as das histórias, apesar de não ter os cabelos enrolados no alto da cabeça. Tenho a certeza que ela teria dado a vida por mim se eu fosse o Capuchinho Vermelho, numa história ligeiramente diferente.
Sempre que vinha à minha casa, era uma alegria... o meu coração pulava muito, tinha vontade de a apertar, o meu sorriso atingia os limites do rosto e a vontade que eu tinha de lhe saltar para o colo era enorme. Lembro-me de a ouvir dizer que eu pelo cheiro, descobria que ela estava a chegar. Até o cão que viveu connosco 18 anos amava a minha avó. Ele chegava a ir visitá-la só para receber atenção e uma bolacha. Eram cerca de 30 minutos sempre a subir, mas ele e eu sabíamos que valia a viagem.
Quando notou que estava a perder a memória recente, e por não querer perder nada daquilo que a vida lhe oferecia, foi ao médico pedir ajuda: «Sr. Dr receite-me aí uns medicamentos para a memória, antes que eu me esqueça...».
(...)
Foi muito importante para mim que ela tivesse estado presente nos momentos mais marcantes da minha vida. Acredito até que ela esteve lá, no dia do meu casamento. Queria tanto viver para conhececr os bisnetos... chegou até a fazer umas botinhas de lã para oprimeiro que nascer.
Foi ela quem me disse mais vezes que gostava de mim, sem hora marcada.
(...)
Conforta-me de alguma maneira, saber que um dia os meus filhos também vão ter uma avó chamada Clara (a sua filha). Que melhor prenda poderei eu dar à minha avó neste momento, passados dois anos do seu falecimento, senão essa garantia?
A minha avó será sempre a Árvore da minha Genealogia. Obrigado vózinha por tudo o que foste e representaste na minha vida, e por teres acreditado em mim.»
Escrito pela mamã a 3 de Maio de 2003.
10 comentários:
Lindo...simplesmente lindo.
Gostei, mto lindo.
Jocas
Acho tão lindo este amor e sentimentos que nutrimos pelas nossas segundas mães :))
Sem duvida que nos marcam para o resto da vida, eu ainda tenho a sorte de as ter as 2 junto de mim :))
Sabe tão bem!
O texto como sempre lindoooo :))
Jokas Minhas
PS: Parece que ainda não foi desta que a mana se deixou mostrar, HIHIHI
Safadita hein!
Lindo :-)
Acho que daqui a uns anos vai haver um relato parecido com o teu, da minha filha para a avó dela que já faleceu!!!
Beijos grande e obrigada pelo elogio, eheheheh
Ana
Fantástico este texto e parabéns por ter existido na vida da mãe uma pessoa tão fantástica e tão boa, parabéns mãe por teres tido alguém tão maravilhoso por perto. Nunca me esqueço de vocês, embora ande um bocadinho ausente. Beijinhos mil nos vossos corações
há pessoas que nos marcam tanto.
bjnho
Lindo!
Era uma pessoa mt especial,eu sei.
Beijinhos grandes
22 Jul 07, 22:56
Paula: Tiago dorme bem e estou ansiosa pelo dia 17, nunca mais chega, beijinhos
http://sonhoserealidades-sininho.blogspot.com/
Este tocou-me em especial porque fala de alguém que é mito importante...a minha avó
beijos emocionados
Nota-se bem que a avó Clara era uma grande mulher, da forma como escreves sobre ela, não podiamos pensar de outra forma..
Há pessoas que são imortais, pela energia que transmitem, pela alegria de viver, e avó Clara é uma delas.
Bjinhos
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