Eu não queria falar mais nisto...
No entanto... iste blog é o nosso diário.
O tempo ajuda a esquecer... por isso resolvi registar tudo.
Perguntei à mamã, perguntei ao papá, perguntei à avó Clara e escrevi...
*****
A mana tinha tido alta do hospital perto das 14h depois de um internamento de 4 dias.
Cerca das 6h da manhã a Joaninha vomitou depois de se ter engasgado.
A mamã saltou da cama e pegou nela. Ela aproveitou o balanço e vomitou o berço, o chão e os cortinados das janelas.
A avó (tinha dormido cá) ficou com ela para que os papás pudessem pôr tudo para lavar.
Antes de recomeçarem a fazer a caminha de lavado a mamã veio dar-me o biberão.
Eu estava assustado e não lhe peguei avidamente como de costume.
«Tou assustado» - disse eu
A mamã pensando que eu ainda estava a sonhar disse: «sou eu filho, é a mamã...».
Como eu não respondia nem me acalmava a mamã resolveu abrir um pouco o estore.
O meu coração estava disparado e eu mantinha os braços dobrados para cima. A mamã reclinou-me para que eu a visse. Eu não focava, não olhava para ela.
A mamã destapou-me porque eu estava quente.
Reparou que eu tinha feito MUITO mais chichi do que aquele que a fralda podia aguentar. Mesmo nos dias em que isso acontece, o chichi nunca foi tanto...
Tirou-me as calças e ia tirar-me a fralda.
Eu não dizia nada de jeito... nem perceptível.
O papá veio.
A mamã colou-se atrás da minha cabeça e voltou a dizer:«olha para a mãe». Eu revirei os olhos. Não ouvi ela repetir isto vezes sem conta...
Talvez o papá me tenha tirado a fralda encharcada e a tenha ido pôr no lixo.
Talvez tivesse sido nesta altura que ele estava a enxuggar o chão da cozinha. Sim, a máquina de lavar a louça tinha disparado o quadro da electricidade na noite anterior e tinha enchido a cozinha de fumo.
A mamã chamou por ele duas vezes, a terceira vez já o chamou a chorar.
Eu não respondia, parecia ter a cara inchada, estava baralhado. A mamã entrou em pânico.
O papá pediu-lhe que se acalmasse e fosse buscar o termómetro (eu parecia quente mas estava tão tapado antes da mamã chegar... podia ser de estar a dormir), a avó entrou no quarto com a maninha ao colo. Acho que o estor já estava todo levantado agora. Havia já claridade lá fora.
A avó assustou-se muito. A Joana não chorou apesar das lágrimas dos adultos. Esteve sempre ao colo da avó.
Penso que o papá lhe disse para não se aproximar muito de mim com a mana, pois não sabiam o que eu tinha...
O termómetro não chegou a apitar porque eu estava branco e o papá levou-me ao colo para o WC.
A mamã foi telefonar para o Dói Dói Trim Trim.
O papá sentou-me ao colo dele, à beirinha da banheira, molhou-me a cara e as pernas nuas com água fria.
Desmaiei. Quanto tempo? Talvez uns 15-20 segundos, mas quem contou o tempo?
A mamã soluçava enquanto falava com a enfermeira ao telefone. No meio do pânico desligou o telefone. Voltou a telefonar e foi atendida por um enfermeiro.
«Aguarde enquanto transfiro a chamada» disse ele depois de ouvir toda a «história».
Pouco depois a mamã voltava a repetir tudo a quem estava na ambulância do INEM.
Pouco depois telefonaram da ambulância. Precisavam de indicações mais precisas da localização da casa. A mamã acenou da janela depois de dizer que já os tinha avistado.
(A avó disse que a ambulância demorou mais de 1h a chegar.)
Eu continuava meio tonto apesar de já ter aberto os olhos.
Estava já na minha cama e tentavam vestir-me outra camisola (aquela tinha ficado molhada) e umas calças.
«Deite-o de lado» - disseram ao telefone.
Sim, eu já estava deitado assim. Foi uma das coisas que a mamã nunca se esqueceu das aulas de socorrismo, embora agora fosse difícil lembrar-se de tudo...
Ela já não estava a chorar. Vinha aí ajuda.
O pai foi-se vestir enquanto ela me tentava manter acordado. Eu só queria dormir.
A avó falava comigo também. A mana, ao colo, observava tudo com atenção.
(A avó disse que o meu corpo esta muito rijo/teso).
A mamã foi-se vestir. O papá ficou comigo.
A mamã abriu a porta da rua.
Entraram duas mulheres.
A temperatura no termómetro, medida enquanto os papás se vestiam marcava 37, qualquer coisa. A primeira vez marcou 36, qualquer coisa.
«Esses termómetros não são de confiar. Não têm daqueles de mercúrio?» - perguntaram.
Nós não tínhamos e nem elas. Usaram um igual ao nosso.
Nada de febre.
Eu não tinha batido com a cabeça, nunca tinha tido nada semelhante, não tinha injerido medicamentos, etc. etc. - disseram os papás.
O papá levou-me ao colo para a ambulância. Fomos pelas escadas do prédio (1º andar).
A mamã levou-me ao colo. O papá seguiu-nos no carro.
Eu não reagia.
«Não o deixe dormir» - dizia a enfermeira que estava a copiar os dados da minha caderneta de saúde. A outra ia a conduzir.
«Filho, olha para a mamã, estás numa ambulância, já viste?»
«Tiago? Filho?»
Ela bem me abanava e fazia cavalinho mas nada...
De repente ela lembrou-se:
«Tiago, olha, a menina está aqui a escrever uma carta ao Pai Natal, diz lá o que queres, para ela poder escrever ali...»
Eu abri os olhos e disse:
«O CAMIÃO DO FAÍSCA (Mc Queen)!!!»
(Já mo compraram, foi a única coisa que me fez abrir os olhos, vai ser uma surpresa no dia de Natal!)
Chegámos. A mamã ia a sair da ambulância comigo ao colo quando o papá apareceu e me amparou no colo dele.
«É por aqui» - disse a enfermeira (?).
A mamã nem sabia onde estava.
Entrámos logo para a triagem.
A mamã e o papá voltaram a ver os enfermeiros que até há uns dias tinham tomado conta da Joaninha.
«Está cá outra vez?» - disse a enfermeira Cláudia.
Perguntas e mais perguntas, respostas e mais respostas... outra vez.
Teste de glicémia (com direito a picada no dedo, ah pois chorei!) alto, para quem tinha bebido um biberão às 22:30h da noite anterior.
A enfermeira detectou e asinalou (com caneta de acetato azul, ainda cá estão os círculos) umas petecas (pintas vermelhas devido ao esforço) no meu corpo.
Já tinham chamado um pediatra. Eu já estva deitado numa maca, fora da triagem. Um sítio menos confuso e com menos luz.
Iria tirar sangue pela primeira vez. Foram logo três tubos.
Do meu lado direito estavam 3 pessoas (mamã, papá e auxiliar - deitada sobre as minhas pernas) e do meu lado esquerdo 2 (a enfermeira Cláudia tirou o sangue e uma auxiliar apertou-me/agarrou-me a mão). Fartei-me de chorar!
«Tira a perna de cima de mim» - disse eu ao pai. Eu sabia lá que era uma auxiliar!
Fiquei a soro, com direito a pensos, etc.
O pediatra chegou e disse que eu tive mesmo uma convulsão.
Fez-me uma teste em que me endireitava as pernas e me levantava pelo pescoço.
Uma das pernas ficava arqueada (repetiu este movimento 3 vezes depois de me endireitar as pernas). Talvez tenha sido isso que o levou ao veredicto. Ainda vou descobrir. Deve ser algum teste neurológico...
Fiquei ali até me mandarem para o Serviço de Observação (corredor paralelo). Os resultados das análises ao sangue estariam prontos dali a 1:30h.
Vomitei três vezes naquela manhã. Só água, no fim a bílis.
Deixaram-me comer três bolachas ao almoço, um chá quente açucarado ao lanche, 2 bolachas passados 30 minutos, mais 3 bolachas passados mais 30 minutos, uma canja ao jantar.
Saí do hospital cerca de 12h depois (entrei às 8:20h e saí às 20:34h).
Receitaram-me umas cânulas (Stesolid 5mg). Terão que me pôr uma no rabinho (e apertar bem) se eu tiver uma convulsão de mais de 3 minutos. Parece que é muito importante contar o tempo.
O electroencefalograma foi pedido pelo meu pediatra.
Vai ser no dia 5 de Janeiro. Será feito com prova de sono.
Ele diz que é comum acontecerem estas reacções anómalas do organismo, sem razão aparente, entre os 6 meses e os 6 anos de vida.
No dia anterior ao exame vou deitar-me à 1h da manhã e levantar-me às 5h.
Às 9h tenho que estar a cerca de 50km de casa, no laboratório que fará este exame (lá fazem E.E.G. a crianças).
*****
Na minha caderneta de saúde está escrito:
«16/12/2008 - S.O. Pediatria
Internamento de 12h por suspeita de convulsão febril. Durante o internamento esteve bem.
Petequía puntica mas dispersa, estável e rara.
Hemograma normal e PCR negativo.
Tem alta pelo médico assistente com terapêutica sintomática.»
*****
E hoje já vamos os dois para o infantário... ou direi antes INFECTÁRIO?